Pegou a xícara, inalando o aroma doce de chá. Mais um dia, mais uma vida. A chance de fazer diferente? Não, aquilo não lhe passava a cabeça. Era só mais um dia. "Qualquer". O que poderia ter de diferente? Fazer a mesma rotina, mesmo percurso para ir trabalhar, mesmas pessoas, ah. Fazia tudo de modo automático, afinal que poesia existia em um dia como aquele? Vestiu-se e se foi a trabalhar, parecer responsável."Afinal não é isso que as pessoas fazem?". Ouviu cobranças, sentiu pressão do chefe, comeu a marmita fria e de mesmo tempero, bateu o ponto e pegou o ônibus.
De volta ao conforto do lar, passou o resto da noite a assistir televisão, sem noção do tempo que corria. E era hora do banho. Em um momento, único naquele dia, seu, resolveu olhar-se no espelho.
Encontrou uma face que beirava o cansaço. Olheiras profundas, cabelo bagunçado, lábios contraídos em um meio sorriso forçado, sem vaidade, sem expressão. "Chega! Amanhã farei diferente.". Refez planos, idéias, sonhos. Decidiu mudar de carreira, ir viajar o mundo e ser voluntário em algum programa contra a fome.
Pegou a xícara, inalando o aroma doce de chá. Mais um dia, mais uma vida. A chance de fazer diferente?
Não, aquilo não lhe passava a cabeça. Era só mais um dia. "Qualquer". E saiu a procura do seu verdadeiro eu.
Escrito por Renata Auler.
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